"Entre a vida e a morte, há vários documentos" é um romance que nos faz olhar sob outra ótica para a única certeza que temos na vida e à qual mais tememos: a morte. Neste livro, morrer é um direito garantido a todo cidadão pelo governo, o qual decide quem merece ter a boa morte ou não. No entanto, não se sabe ao certo quais critérios são levados em conta pelo sistema para escolher quem receberá o narcótico mortalis.
“Já passava de meia-noite e Antônio estava no mesmo bar, na TV estava uma notícia sobre alguns incêndios no centro da cidade. Não deu muita importância, olhava para o fogo filmado de longe, pediu outra dose de whisky. Em sua cabeça, algumas lembranças do sistema em tela preta e das letras verdes do trabalho surgiam, uma mulher de anos atrás que passou na aplicação mesmo com o veredito negado do psicólogo, mas, como advertira o chefe na época, ‘são cálculos do sistema, confie no algoritmo, Antônio. Ele sabe mais do que nós’.”
O conflito entre os irmãos Antônio, funcionário público que trabalha na regulamentação do uso do narcótico, e Luzia, professora e militante contra a política da boa morte, guiam toda a trama, trazendo à tona o embate entre princípios éticos individuais e a complexidade das decisões tomadas pelas instâncias de poder político. Entramos em contato com personagens moldadas por uma sociedade muito diferente da que conhecemos, mas com uma importante semelhança: quando uma pessoa morre, outra, mesmo que por pouco tempo, não se sente mais viva sem ela.
Sobre o autor
Formado em jornalismo, já perambulou pelas áreas do audiovisual, do marketing e do comércio exterior. Para fugir da rotina de trabalho administrativo, consome a arte e a literatura que abordam as diversas questões humanas e, não menos importante, toma café sem açúcar para comer doce sem culpa.
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