Entre 1798, quando o papa Clemente XII (1730-1740) lançou a Constituição Apostólica In eminenti, até o final do século XIX, a Igreja Católica lançou dezenas de documentos condenando a Maçonaria e as demais sociedades ditas “secretas”. No cerne dessas condenações, a concepção de que os maçons conspiravam contra a Igreja, e a de que a suas ideias eram incompatíveis com os dogmas católicos. No entanto, partindo de um mirante analítico calcado nas fontes e em recentes reflexões historiográficas, a questão parece indicar que existe bem menos entre o Céu e a Terra do que supõe a nossa “vã filosofia”. Essa é a concepção que perpassa o presente livro, que pretende analisar esse debate a partir de um objeto específico: a cidade de Franca nas duas últimas décadas do século XIX.Nos pontificados dos papas Pio IX (1846-1878) e Leão XIII (1878-1903), a Igreja Católica intensificou o seu combate aos “erros modernos”, como o racionalismo, o liberalismo, a Maçonaria e as demais filosofias surgidas no processo de laicização da sociedade ocidental. No Brasil esse debate intensificou-se com a chegada do catolicismo conservador ou ultramontano e com as ações dos chamados “bispos reformadores”. Seu ápice foi a Questão Religiosa, que opôs os defensores do regalismo imperial – muitos deles maçons – e os católicos ultramontanos, aferrados às prerrogativas da Santa Sé. Compreender a penetração desse debate na pequena “Franca do Imperador” em suas origens e especificidades, a partir da imprensa local, é o principal objetivo da presente obra.