Depois de sua análise das relações sociais clássicas, no espaço urbano (História da indústria e do trabalho no Brasil, escrito com Foot Hardman), Victor Leonardi embrenha-se nos sertões para oferecer-nos um prodigioso painel sobre a luta pela existência fora das convenções coletivas e dos contratos sociais, em áreas do território brasileiro onde a noção de cidadania praticamente não existe e os direitos humanos são desrespeitados regularmente. Esmiúça arquivos europeus, a historiografia e a teoria histórica, sempre constatando como ainda conhecemos mal a formação do que se convencionou chamar “a Modernidade”. O autor acentua dois processos que ainda não receberam a devida atenção na historiografia brasileira – exploração do trabalho indígena e invasão de terras indígenas – e investiga as especificidades históricas da violência no sertão, da Colônia aos dias atuais. Embora todo o território brasileiro seja contemplado neste ensaio, o Centro-Oeste e a Amazônia ganham destaque especial, pois em suas imensas áreas interioranas continuam se reproduzindo, até hoje, situações de tipo colonial no relacionamento entre as chamadas frentes pioneiras e os povos indígenas. Ao relacionar a história moderna à violência que se abateu sobre os povos autóctones dos dois lados do Atlântico – negros africanos e índios americanos –, Victor Leonardi mostra-nos vários aspectos inusitados da história do mundo ocidental. Dentro desse quadro teórico revigorado, trabalho escravo e trabalho indígena ganham novas dimensões como capítulos da história social brasileira.