Este trabalho de Eloisa Rosalen nos apresenta questões fundamentais para compreendermos a experiência do exílio de mulheres brasileiras durante a ditadura militar inaugurada com o golpe de 1964 e os feminismos brasileiros a partir do processo de redemocratização do país. Fundamentada em entrevistas e conversas feitas pela autora com mulheres que viveram a experiência do exílio na França e em Portugal e em pesquisa em arquivos e documentos, Eloisa narra as vivências e trajetórias dessas mulheres, da militância e proximidade com as organizações de esquerda, passando pelo exílio e finalmente seu retorno ao Brasil, quando novos caminhos políticos se descortinaram com o final da ditadura. Entre esses novos caminhos, a Assembleia Nacional Constituinte e a incorporação da pauta dos direitos das mulheres na nova Constituição Federal, a formação de grupos e movimentos feministas no país e as novas formas de militância e engajamento político. Tem-se aqui o retrato de uma geração de mulheres que viveu visceralmente o exílio e o retorno, com todos os efeitos e significados que essa experiência proporcionou, entre elas a da relatividade da própria ideia de retorno, dada pela irreversibilidade do exílio enquanto experiência – no retorno, nada é mais o mesmo, nem as mulheres, nem o país para o qual se retorna. Tendo como contexto das entrevistas (realizadas entre 2015 e 2019) o avanço dos neoconservadorismos no Brasil e o golpe misógino de 2016, a leitura também nos ensina sobre a centralidade do tema dos feminismos e da militância política das mulheres para a compreensão dessa história recente do país.