O que leva muitos brasileiros a migrarem para o continente europeu, enfrentando dificuldades que vão da língua, que, com frequência, não dominam, a um estilo de vida completamente diferente daquele que tinham no país natal? Que avaliação eles fazem da experiência migratória? Como, enfim, eles sentem (e dizem) o que é ser o outro/estrangeiro em terra alheia? Essas eram algumas das perguntas que eu me fazia quando decidi, no âmbito de uma pesquisa de pós-doutorado, entrevistar brasileiros que vivem atualmente na França e na Inglaterra. Se os sujeitos migrantes, habitualmente, “escondem-se” por trás de números e porcentagens ou são “falados” por outrem (especialistas, governantes, jornalistas etc.), busquei seguir um caminho alternativo que lhes devolvesse a palavra. São, portanto, os próprios migrantes brasileiros que, ao longo deste livro, contam suas histórias, discorrendo não apenas sobre os obstáculos que enfrentaram – enfrentam ainda – no cotidiano do novo país, mas também sobre seus avanços e conquistas, a ponto de se perguntarem se vale (ou não) a pena retornar ao Brasil. Essas “pequenas histórias” tornam-se aqui objeto de reflexão e, embora cada uma delas seja única e seu sujeito, singular, apontam, em conjunto, para a construção da “grande história” dos fluxos migratórios contemporâneos. Trata-se de um tema fascinante para todos aqueles que, como eu, procuram assumir o lugar de mediadores de uma fala que, destinada a permanecer restrita à esfera privada, ganha o espaço público, permitindo que aqueles que a proferem se tornem visíveis e audíveis para a sociedade em geral. Na sequência de Vivendo do outro lado do Atlântico: histórias de brasileiros em Portugal (2021), este livro objetiva, em última análise, ouvir e fazer ouvir histórias de brasileiros comuns – “gente como a gente” –, que, generosamente, concordaram em partilhar comigo suas memórias e vivências migratórias.