O livro Entre fazer a América e construir a cidadania: formação comunitária judaica e as formas de viver a cidade de Belo Horizonte é um modo inovador de abordar o estudo sobre as comunidades judaicas do Brasil o qual revela nuances e fronteiras simbólicas que permitem refletir como se percebem as comunidades, colocando-se entre o visível e o invisível; entre o destacar e discriminar a figura do judeu; e lhe dar espaço para sua territorialização e mobilidade social; desde o passado de perseguições vivenciado pelos que vieram até o processo inclusivo, o qual permitiu que os migrantes judeus se dirigissem para a recente capital mineira, permanecessem e desenvolvessem raízes. Raízes que dialogam com as formas de inclusão comparáveis à cidadania e a maneiras identitárias que se materializam na própria condição de estrangeiro, que está intrínseca à presença dos judeus nas primeiras décadas da capital mineira. A autora, ao analisar a comunidade de Belo Horizonte por meio do cruzamento das listas dos membros das associações judaicas do período (União Israelita de Belo Horizonte, Damas Israelitas e sepultamentos do cemitério israelita) com os estabelecimentos comerciais de proprietários judeus, conseguiu demonstrar que os judeus em Belo Horizonte experimentaram uma constituição singular, assim como é cada comunidade no Brasil e no mundo, considerando os contextos e as condições encontradas no momento da sua formação. No caso da capital mineira, a utilidade experimentada na urgência de fazer a cidade funcionar dentro dos padrões mais exigentes da modernidade atraiu e permitiu a inserção dos judeus, que se destacaram no comércio de artigos de luxo, distribuindo elegância e sofisticação. A cidade que os acolheu também permitiu sua representação e participação, e nas instituições judaicas do período que o estudo aborda, entre 1910 e 1940, que nos faz enxergar como a relação com o poder público e a sociedade civil estabeleceu relacionamentos muito específicos e diferentes no estudo de caso mineiro. É um trabalho que vale a pena ser lido, e nos faz refletir sobre a presença das comunidades judaicas no mundo e as possibilidades de seu exercício de cidadania.