Este livro é resultado de uma experiência etnográfica empreendida entre os anos de 2000 e 2003, e finalizada na tese Entre ficar e sair: uma etnografia da construção social da categoria juventude rural, defendida em 2005 no Museu Nacional e sob orientação de Moacir Palmeira. Esse foi um ponto de partida singular e que me apresentou um universo de questões. Algumas se transformaram em problemas de pesquisa, como as múltiplas e complexas construções da categoria juventude, e outras permaneceram adormecidas. De lá pra cá, posso dizer que efetivamente minha trajetória acadêmica e mesmo de vida pessoal se cruzaram definitivamente com a juventude rural. Muitas novas questões surgiram, e quando estava preparando o projeto para a publicação da tese, cheguei a pensar se deveria revisitar o trabalho etnográfico e “reatualizá-lo”. Contudo, o processo etnográfico de estar lá, escrever então e publicar agora permite perceber que a fotografia captada e o caminho percorrido devem ser preservados, pois, apesar de se reportarem a um Eldorado certamente muito diferente do que encontramos hoje, resgata uma parte da história de luta pela terra no Rio de Janeiro, e permite um olhar sobre questões presentes no debate sobre a questão agrária brasileira. Mais ainda, considero que a riqueza das relações familiares, de vizinhança, religiosas e políticas vividas por essas famílias muito contribui para pensarmos a experiência de ser jovem rural numa complexa realidade da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Portanto, o livro é uma contribuição para aqueles que se interessam pelos “temas” por ele abordado, que, geralmente, reduzimos à “palavras-chaves”, mas é também uma contribuição ao debate do fazer etnográfico, e, por isso, revela os encontros e desencontros, tropeços e “achados”. O maior de todos eles, a generosidade das famílias e, em especial, dos e das jovens, além dos muitos outros colaboradores presentes, ainda que com suas identidades preservadas.