Um contador de histórias
Um texto como esse só podia mesmo ter sido escrito por um físico de formação, com abertura interdisciplinar e uma inspiração de poeta, um admirável contador de histórias, que transita pela filosofia, a antropologia, a história, a psicologia e a psicanálise, a literatura, os estudos artísticos e literários e como ele mesmo diz - "com a benção dos xamãs". Suspeito que Davi Kopenawa gostaria de trocar figurinhas com Caruso, como fez num bar em Paris com o matemático francês Cédric Villani, aqui citado, numa "conversa fascinante que desencadeou uma reflexão inesperada sobre a convergência entre papel dos xamãs e dos cientistas em relação à sociedade". Cientista e xamã são sonhadores, antenas de um mundo invisível, que ajudam os outros a estruturar seus próprios pensamentos e a se comunicar entre si.
É o que faz aqui o cientista e poeta Caruso, quando nos motiva a ver o documentário Caverna de Ossos, que tanto o comoveu, e consegue modificar também a nossa concepção do que é humano, a partir das reflexões sobre o Homo naledi essa espécie primitiva extinta, quase ana, mas gigantesca, com cerca de 2 milhões de anos. Ele se propôs dialogar com outras áreas do saber para "remarcar as fronteiras do entendimento e do preconceito humanos", numa operação "despojada do medo de se propor hipóteses ou fazer conjecturas por mais estranhas ou inalcançáveis que pareçam". Conseguiu.