A verdadeira filosofia é a literatura, a única reflexão que não teme o escândalo da vida. Fora disso, mostra Cioran, só existem as tentativas positivistas de regular o regulável, o limitado, o racional. Mas o verdadeiro filósofo deve alimentar-se de paradoxos, de paixões, de ironias, de tempestades. "Não se evita impunemente uma crise interior", avisa Cioran. Este livro, ENTREVISTAS, com Sylvie Jaudeau, lendo e escrevendo, último grande, diálogo do mestre romeno publicado na França, revisa o pensamento de um autor impiedoso, fulminante e satírico. Para Cioran, sempre atento à sedução da forma, toda tragédia pressupõe uma comédia. Tudo é tragicômico. A morte é a última anedota da vida. A filosofia tradicional não passaria de um exercício de opacidade verbal: "Pareceu-me que pretendiam iludir-me com palavras. Devo agradecer a Heidegger por ter conseguido, com sua prodigiosa inventividade verbal, abrir-me os olhos". Atenção: Cioran não gaba os méritos de Heidegger, mas os deméritos. A leitura de Heidegger ensinou-lhe o que não deveria repetir: a floresta densa dos conceitos inertes. Cioran evitou as concessões. Teve sucesso sem adorar o brilho. Permaneceu libertário mesmo quando se tornou um mito, uma celebridade, um adulado. Desprezou os prêmios e as honrarias fáceis. Buscou no tédio, no vazio, na insignificância das coisas, o sabor da existência. Só há sentido na falta de sentido. Depois de ter reduzido o tudo ao nada, suspirou: "Se não escrevo mais, é por estar farto de caluniar o universo". Quando a maioria dos pensadores estiver relegada ao silêncio empoeirado das estantes, Cioran ainda resistirá como um analista do impossível, um mestre da dúvida, um espírito da mordacidade a serviço da palavra maldita. Cioran conseguiu ser maldito sem nunca ter nada mal dito. Era um virtuose da maldição bem dita, da fórmula insuperável. A sua insolência resistirá ao sol do tempo dando sal à impaciência dos que já não suportam a morosidade do "vitalmente corre