Tradicionalmente, o corpo não é bem visto na filosofia ocidental e muito menos a utilização que dele se faz. Depois de Platão, o corpo foi desvalorizado em nome da moral e da razão. Entre o tato e a inteligência, o divórcio parece ser irremediável. Tudo transcorre como se houvesse uma liberdade vigiada dos sentidos, dos odores e do sexo. De uma forma ou de outra, a maioria das pessoas se esforça para negar o que remete ao físico. Já o filósofo francês Michel Onfray pensa diferente. Para ele, através do que se come, por exemplo, é possível conhecer um corpo, um estilo, um universo e até mesmo uma filosofia. Esta última não seria apenas uma disciplina e estaria presente nos mínimos atos em que o mundo é questionado radicalmente. Michel Onfray, ganhador do Prêmio Médicis de 1993 na categoria Ensaio com o livro A escultura de si, apresenta-se como um autor singular na galeria dos jovens filósofos franceses. "Não há ética fora do hedonismo" – a partir desta fórmula simples, afirmativa e jubilosa, Onfray construiu um tratado de ética criativo e original. Nele, o bem é moldado por valores estéticos. A elegância e o prazer de si guiam aquele que busca, como diziam os antigos, esculpir sua própria estátua. Ou seja, fazer de sua vida uma obra de arte. Nietzsche é a referência que conduz o autor nessa epopéia tônica e graciosa. Veneza, Sils Maria, boby-art e dandismo aparecem como caminhos que servem para uma demonstração: a ética não é um assunto para ser deixado aos formalistas e aoscultores do ideal ascético. Ela deve ser obra dos que buscam a excelência, a magnificência e a aceitação do caráter trágico da existência. Valores como a amizade, a polidez, a fineza e o esquecimento são saudados aqui do único ponto de vista caro aoautor: a superação do niilismo contemporâneo. Segundo ele, para combatê-lo é preciso reforçar as escolhas, a singularidade, a eleição hedonista. Contrariamente aos que identificam prazer e animalidade, Onfray sugere a aliança plena en