Esta coletânea reúne dois livros – Espinosa Subversivo (1992) e Espinosa e nós (2010) –, além de outros ensaios esparsos que Antonio Negri publicou sobre Espinosa entre 1983 e 2009: um texto escrito nos cárceres romanos (onde a derrota é ocasião de crítica e reinvenção teórica), outros no exílio parisiense (1983-1997), outros ainda quando do retorno à Itália (e à prisão), além de intervenções recentes (2005-2009) – textos expressos com os sortilégios da “lírica paduana”, aquela que atinge as alturas do conceito temperando-o com entusiasmo desencantado. Como diz o autor: “Foi estudando Espinosa que comecei a fazer filosofia, por mim, para as minhas coisas”; “Espinosa foi para mim um meio de abandonar o leninismo”; “Espinosa foi a minha outra grande leitura na prisão” (ao lado do Livro de Jó, parábola do sofrimento daquele que “talvez tenha sido mais justo que Abraão”). Os textos testemunham a longa travessia de Negri e reiteram o que ele reconhecia nos juízes que o condenaram em 1979: melhor que ninguém, sabiam o significado da palavra “comunismo”. Esse sonho do comunismo como mutação antropológica, que pode ser domado, mas não anulado, Negri reencontra em Espinosa – que lhe dá régua e compasso para a resistência em favor de novos modos de pensar e fazer política.Maurício RochaProfessor do Departamento de Direito da PUC-Rio