Numa sociedade-mundo marcada pela ausência das grandes narrativas regeneradoras da cultura, pela liquidez das relações afetivas, pelo enfraquecimento dos ideais acadêmicos e indigência do pensamento universitário, pela crise generalizada da política e do Estado, pela banalização da violência real e simbólica, pela medicalização da solidão e pela perda de perspectiva de futuro para o planeta Terra, a Antropologia ainda tem lugar? Na primavera de 1986, em Tóquio, e por meio de três conferências, Claude Lévi-Strauss responde afirmativamente a essa pergunta. Em A Antropologia diante dos problemas do mundo moderno sugere que grande parte dos problemas do mundo atual encontrariam campo de reflexão e solução fecundos se fossem recrutados os conhecimentos retotalizadores das sociedades arcaicas. Ao empreender e consolidar a ideia de uma Antropologia Fundamental, Edgar Morin se insurge contra os protocolos de uma antropologia relativista e reacionária que ainda insiste em separar o homem da natureza, a razão da desrazão, a cultura cientifica da cultura humanística, a arte da ciência, o mito do logos, o sujeito do objeto. Ao expandir a noção de complexidade em prol de uma política e de uma ética do pensar e do viver, Edgar Morin torna a antropologia digna desse nome - ciência do homem capaz de compreender o cenário inacabado da espécie. Discípulo do primeiro, e amigo do segundo, Edgard de Assis Carvalho tem arquitetado com maestria e originalidade a mesma perspectiva de compreender as culturas humanas. Uma Antropologia Fundamental é a base que religa o conjunto de textos que compõem este livro há muito tempo esperado pelas dezenas de alunos e colegas que tiveram, e têm, em Edgard, um exemplo de pensamento provocativo, insurgente, corajoso, e que vem agora a público pela sensibilidade dos coordenadores da Coleção Contextos da Ciência da editora Livraria da Física. Conheci Edgard em 1975 - e lá se vão quarenta anos! As inesquecíveis aulas na PUC de São Paulo durante meu mestrad