Muitas produções e ações de arte evidenciam hoje um aspecto multifacetado que nos leva a considerá-las para além dos usos de diferentes suportes ou da intenção do artista. No caso específico da fotografia, formas de produção e de exibição como os grandes formatos, as instalações, as projeções e os fotolivros em ambientes institucionais e não institucionais; gestos como a inventariação de modos de vida social; a exploração da citação, da memória e da encenação e o uso combinado com outras linguagens e mídias, evidenciam tanto sua natureza artefatual quanto as operações que fazem de tais imagens não simples objetos para contemplação, mas também formas-pensamento produtoras de uma experiência crítica. A principal aposta do livro é que as práticas com fotografia no campo da arte são práticas comunicativas que exploram reflexivamente operações sígnicas (visuais, narrativas e estéticas) e evidenciam as redes de relações sociais, culturais e históricas em que as imagens se inscrevem e que também ajudam a construir. Nesse sentido, os usos e as mediações da/com a fotografia podem ser considerados uma forma de investigar certos processos de regulação de nossas relações com o mundo através da imagem. Mesmo examinando mais diretamente imagens e práticas com a fotografia no campo da arte, o livro não busca definir a partir dela o que seria próprio da experiência do fotográfico na atualidade nem tampouco vincular tais experiências ao nosso presente, como se fossem inaugurais. Antes, busca entender como, em nosso presente, tais objetos e práticas se articulam a determinadas temporalidades e experiências e como, por isso mesmo, tornam-se capazes de discutir nossos modos de perceber e de dar a ver o mundo.