Estudo Literário de Gênero: mimeses entre identidade, cultura e poder, ao se dedicar à análise de parte dos contos da coletânea Uma Mulher Escandalosa, de Edna O’Brien, é mais do que uma oportunidade de aprendizado para quem estuda ou trabalha no campo das Letras, da Psicologia, da Educação, da História e da Sociologia. Este livro é um convite para, a partir da literatura, refletirmos a respeito de temas urgentes da sociedade a nós contemporânea, dentre os quais as relações de poder e a dimensão da cultura na constituição de certa identidade de gênero. A intensa análise das obras de O’Brien que nos são apresentadas, nos propicia conhecer parte da produção da Literatura Irlandesa e sua articulação com discussões a respeito da naturalização histórica do silenciamento e da objetificação do ser mulher. E, ao fazê-lo, impele-nos a nos posicionarmos em relação ao tema e nos incentiva a adentrar a batalha social, cultural e política para a transformação da condição do feminino na sociedade atual. A cultura é tomada na obra como o campo de ação a partir do que as noções de público e de privado são tecidas nas histórias. Nesta perspectiva, a construção da representação das identidades de gênero e como suas performatividades operam as escolhas das personagens ocupa espaço relevante neste livro. Por não se configurarem como passivas frente às demandas sociais, as personagens são descritas e analisadas também desde suas inclinações pessoais e considerando-se ações desviantes em relação às normas, como princípio de subjetivação. Neste tocante, o devaneio torna-se um meio para se aliviar as tensões provenientes do desencaixe entre as demandas da vida em comunidade e as metas pessoais. Mas, por que aceitamos conduzir nossas ações na direção do que alguma coletividade julga adequado, quando essas mesmas ações ferem e impossibilitam aquilo que nós entendemos como melhor para nós e até mesmo para a coletividade? Ainda que essa não seja em si a questão condutora da escrita, ela certamente acompanhará você, pessoa leitora, em algum momento da obra, ao se entregar às páginas deste livro. Boa leitura!
Juliano Casimiro de Camargo Sampaio