Quando, em várias partes do mundo (Brasil, Rússia, Estados Unidos, Polônia, Hungria, Alemanha etc.), governos e partidos de extrema direita atacam abertamente formas de vida que cada vez mais interpelam a heteronormatividade, um livro que focaliza corpos LGBTQIA+ é, antes de mais nada, um modo de demandar liberdade para nossas existências e de continuar lutando pelo não-ainda. Além disso, quando essas maneiras de engendrar a vida política são também enlaçadas por modelos neoliberais de gerir a economia, que a tudo colocam um preço, inclusive aos corpos, estudar essas vidas que escapam de binarismos sedimentados e valorizados é uma maneira de resistir a tais perspectivas econômicas que insistem em colonizar tudo e a todos. O livro é portanto um modo, à la Butler, de insistir na ideia de que a vulnerabilidade não se separa da resistência. Por outro lado, ao enfatizar a natureza discursiva de nossas (des-) identificações sociais interseccionalizadas por gênero, sexualidade, raça, classe social, religiosidade, nacionalidade etc., o volume interroga por meio de análises críticas do discurso sentidos biologizantes para nossos corpos que os aprisionam em roteiros de vida naturalizados e bem delimitados. Tais roteiros traçam relações unidirecionais entre ‘sexo’, gênero e práticas desejantes, que o nosso cotidiano desconstrói por toda parte. Por fim, o livro opera com uma visão que deixa de lado a primazia do signo linguístico nos estudos da linguagem, ao focalizar a especificidade multimodal dos recursos semióticos de que lançamos mão na construção do significado em um mundo no qual nossas vidas já são online Offline. Esses posicionamentos político-teórico analítico- metodológicos, filtrados por lentes translocais em uma parte do sul global (Brasil, Chile e Uruguai), tornam auspiciosa, nos cursos de graduação e pós-graduação, a leitura de Estudos críticos do discurso multimodal sobre as comunidades LGBTQIA+ na América Latina.