À medida que o momento se aproximava, na mente de Dante efervescia todo um épico plano traçado ao mais ínfimo pormenor. Não era o que ele poderia alcançar que o motivava ao ímpeto, mas a jornada em si empreendida, por meio da qual, tão só, todo um inefável sentir, estado de espírito e propósito poderiam ser materializados. Perante uma cordilheira de íngremes descalabros, escarpadas quimeras e alcantis falácias que se exibem e imperam defronte à nossa pequenez, impotência ou despreparo, a reação mais natural a todo e qualquer “alpinismo e alpinista” (na tentativa de expor, trazer e restabelecer a verdade) será a resignação, a descrença e a renúncia. Todo o intrépido arauto que se mostra inconformado, e o expresse, terá de estar ciente de que será essa a reação massiva que enfrentará. O ostracismo, o cancelamento e a ridicularização, todas juntas, intercalando-se, ou uma por vez, serão, pois, ululantes e incontornáveis obviedades, pois que, quanto mais ignorante e alienada é a criatura, mais bisonhas lhe parecerão as explicações de quem estuda, se blinda e, com cristalina lucidez, capta, entende e antecipa os complexos enredos, as contrariedades, as adversidades e os dilemas que se lhe apresentam.No frigir dos ovos o que realmente importa e conta é o realizar da obra, quem a fez e nela encontrou todo um sentir e sentido, inspirado por algo ou alguém que, por sua vez, inspirará outros. Dante garantiu, no dia em que zarparam, sob palavra de honra e testemunho de muitos que traria os amigos sãos e salvos e com a gáudia sensação de terem feito algo extraordinário.