Que conselhos um pai poderia dar ao filho sobre ética, justiça, bens materiais, amizade, prazer, felicidade? É isso que encontramos em Ética a Nicômacos – notas de aulas dadas por Aristóteles a seus discípulos, entre os quais estava o próprio filho.
O prestígio que a Ética a Nicômacos desfruta ao longo de vinte séculos se explica, em parte, por Aristóteles desvincular a moralidade humana das essências eternas de Platão e trazê-la para a vida de todos os dias, para o “aqui e agora”, tratando o homem como ele é, e não como deveria ser. A Ética a Nicômacos não quer mudar a vida dos homens, e apresenta uma análise profunda – característica do espírito científico do autor – da moralidade como a vemos sob as várias condições da realidade.
Nada melhor do que as palavras do Estagirita para dar uma ideia do método aristotélico:
“Devemos então examinar o que já dissemos, submetendo nossas conclusões à prova dos fatos da vida: se elas se harmonizarem com os fatos, devemos aceita-las; mas se colidirem com eles, devemos imaginar que elas são meras teorias” (Livro X, 8, 1179 a 17)
Naturalmente, numa mente de inclinações tão científicas, falta a poesia. Não devemos esperar de Aristóteles o brilho literário que transborda das páginas de Platão. Por outro lado, Aristóteles construiu a terminologia da ciência e da filosofia. Por isso mesmo, a tradução de suas obras é questão fundamental. Eis porque a Editora Madamu optou por reeditar uma tradução direta do grego (uma das melhores disponíveis no Brasil, se não for a melhor) – brilhantemente empreendida por Mário da Gama Kury, e que estava há anos esgotada.
Esperamos que a nova edição contribua para o estudo da Filosofia e, como diz o prof. Dr. José Reinaldo de Lima Lopes (que assina o prefácio), “no período de transformações pelo qual passamos é importante refletir sobre o que fazer e sobre que espécie de vida queremos para nosso futuro. Seja nas estruturas sociais, seja na tecnologia que nos cerca, tudo depende de escolhas. Nenh