Por que os homens virtuosos são capazes de prover sabedoria para os próprios filhos em assuntos que dependem de mestres escolares, mas são incapazes de elevar esses mesmos filhos à virtude da qual eles próprios detêm a posse?” (Platão, Protágoras, 324 d).
Esta obra se ocupa com o tema mais fascinante da reflexão filosófica grega: a Ética. Mescla abordagem histórica e análise de conceitos. Do ponto de vista histórico, percorre os caminhos do despertar da consciência ética promovida pelos poetas, rapsodos, legisladores, sofistas e filósofos gregos. Pela análise de conceitos, reproduz o embate de ideias que, no decurso histórico, veio a definir o éthos (o modo de ser) e a areté (o modo de portar-se) buscados pelos filósofos como o bom modo de viver e de habitar a pólis.
No conjunto, a obra se ocupa, de um lado, com o projeto educador do éthos cívico promovido pela dialógica socrático-platônica e concebido em confabulação com os sofistas, rapsodos e poetas — com aqueles que foram os mestres ancestrais da escolaridade, mentores da vida cívica e difusores da cultura —; de outro, reproduz o empenho dos filósofos gregos no sentido de levar para dentro da legislatura das póleis o éthos filosófico reformador da civilidade grega.
Em síntese, a partir da proposição de Heráclito que dizia ser o éthos a morada do homem, de um ponto de vista histórico e conceitual a obra se empenha em demonstrar como a posteridade grega foi levada a pensar a pólis de outras maneiras: [a] como se ela própria fosse o éthos (a morada) do homem; [b] que a pólis sem éthos é incapaz de promover um projeto reformador valioso de educação, de direito e de civilidade.