Amar é um tecido-acontecimento de muitos avessos. Poema algum do mundo talvez jamais tenha tido outra face senão a face do amar, uma face feita de avessos. Desses avessos-faces-tecidos-acontecimentos cuida este livro, Ex-culturas, de Alexandre Sá. O amar – e os avessos – bem nas páginas: tremores, irritações, lembranças, o esquecer; acertos, encontros, perdas, a espera. Poemas são fabricos histórico-plástico-existenciais de longa duração, como o amar (pela coisa-amar-expandida, vibram os contemporâneos poemas deste livro!). Mesmo aqueles poemas em que lá longe pareceram dedicar-se tão apenas à guerra e à polis eram – como os poemas daqui – poemas do amar. Sendo tanto aqueles quanto estes poemas, poemas do amar em (mil avessos), fincam-se – no avesso núcleo do próprio amar – o tanto incontornável de pólis e o tanto incontornável de guerra. O modo-poema de Alexandre Sá consiste em arte e ciência a tratarem de materiais pulsantes: o corpo, o outro, o silêncio. O modo-poema de Alexandre Sá afirma, oh verdade no amar, o tentar querer dizer e dizer e dizer. Embora não haja outro sítio (o do amar) para um poema (para qualquer poema) expandir-se, tal exigência bem pouco auxilia a cultura natural e humana do poema. Todo poema é difícil: avoca forças, impõe saber e entrega. Estes poemas aqui sabem, entregam-se, erguem-se: excitam e disturbam quem no livro está e quem no livro entra. Talvez poemas – todos os poemas deste livro o provam – tenham vindo ao uso humano como cadernos-arquivos para registro de sensações que somente emergem sob as ordens do amar. Talvez poemas – todos os poemas deste livro o provam – sirvam como testemunho direto do que é a evidência de vida pulsando no exato instante do mais real possível instante de vida pulsando. Eis-nos, pois, aqui então, diante de vida pulsando – pulsando em letra. Fragmentos retirados da Apresentação, por Roberto Corrêa dos Santos