Era ainda mister a intervenção de um Deus para converter e santificar a humanidade, para levar os frutos do sacrifício divino a todos os filhos da Redenção, na perpetuidade do tempo e na universalidade do espaço. Ao mundo, que já havia sido resgatado e ainda o ignorava, ao palácio dos Césares, aos filósofos de Atenas e de Roma, às multidões imersas na ignorância e na corrupção, cumpria pregar a Boa Nova, iluminadora das inteligências e purificadora dos corações. Do gênero humano disperso, dividido, sempre instável nas suas incertezas, sempre amigo de novidades curiosas e de liberdades sem freio, formar um povo de Deus, uma nação de eleitos, vinculados pelos laços da mesma fé e de uma só moral — eis o complemento espontâneo da missão redentora de Cristo. Árdua e sobre- humana empresa! Mais árdua ainda e mais sobre-humana se considerarmos que esta regeneração espiritual, esta transmissão de um corpo de doutrinas e de leis deverá perpetuar-se através das gerações. A todos os povos escadeados no curso dos séculos e disseminados pela extensão do globo, tão diferentes por índole, costumes, educação, cultura e instituições, há de chegar a doutrina salvadora do Evangelho. Intacta, imutável, incorrupta, ela deverá sobreviver a todas as migrações dos povos, a todas as revoluções, a todas as guerras, a todas as constituições políticas — única firme na torrente das coisas humanas que tudo arrasta nos vórtices de sua incessante mutabilidade.