Quando dizíamos que a filosofia cristã é uma reflexão dramática, não pensávamos ter acertado com tanta exatidão. Imediatamente, ela se choca contra obstáculos e só conseguirá ser aceita transformando-os em trampolins. Nela o cristianismo só terá valor de pensamento se incitar esse mesmo pensamento a abrir novos caminhos e não a dispensar-se de pensar. Deve ser uma maneira de cooperar, para o progresso da filosofia. Ora não sabemos que o progresso nesse domínio equivale na maioria das vezes à conquista de uma região, considerada não filosófica? Toda filosofia tem um além que ela gostaria de cercear e reduzir. É nela mesma que finalmente deve situar a dualidade que a estimula exteriormente. A prova será vencida ou vencível se chegarmos a mostrar que a filosofia cristã não é sempre um produto híbrido e inconsistente, mas um meio de purificar a própria filosofia na sua essência. Será ela capaz, e em que condições, de determinar a autonomia crítica, a objetividade e universalidade que convêm à filosofia, no sentido estrito? Faz-nos compreender melhor onde se acha a oposição entre a natureza e a graça? Filosofia e cristianismo são um purgatório um para o outro, mas seria belo poder concluir que a filosofia cristã completa em si mesmo o purgatório que, de início, lhe é proposto do exterior, seria belo provar ou vislumbrar que, nesse sentido, a filosofia mais completa é aquela que é também cristã, enquanto que o mais completo cristianismo será aquele que é também uma filosofia.