Na obra Existência e Finitude no Eclesiastes: perspectivas teológico-literárias, a relevância do texto está posta tanto naquilo que desvela como naquilo que agrega. Primeiro porque é capaz de desnudar a expressividade do livro de Coélet, soerguida em latente consórcio com a poeticidade do discurso literário, seus códigos específicos, seus meandros e suas técnicas. Tal “revelação” chegará ao leitor à medida que as influências e as hibridações entre o que é considerado sagrado e o que é rotulado como secular sejam dilapidadas pelo acuro e pelo esforço analítico empreendidos pelo autor deste livro. Dito de outro modo, a tessitura reflexiva aqui engendrada demonstra a retomada de um percurso que, desta feita, põe a arte literária, o “verbo”, novamente como o princípio de expressão apto a alavancar a sabedoria cosmogônica judaica do Tanakh. Outrossim, ao agregar em sua reflexão a necessária teoria da metáfora, à luz de Paul Ricoeur, Gilmar Vasconcelos traz à cena o livro de Eclesiastes como símbolo da negação à compreensão retributiva da “recompensa” e da “permanência da alma” após o irrevogável vaticínio da morte. Além disso, traça com linhas claras o mapeamento da percepção que rege as intricadas e não resolvidas questões da criatura – finita e efêmera – mediante um criador – julgado e concebido em sua mais completa onipotência. Tal incógnita ganha fôlego na interface de um poema cujo escopo é nos ratificar um Deus que nos quis “sopro” ou “respiração”, que nos quis pó e nos reduz à mais ínfima condição de fugacidade neste mundo que, na visão da “sabedoria coeletiana”, não é mais do que cenário permanente para as nossas tolices e “vaidades”. Doutora Patrícia Gomes Germano Professora de Literatura e Língua Portuguesa – Leciona no Mestrado Multidisciplinar em Ciências da Educação (Instituto Bio Educação); atuou na Pós-Graduação da Furne/Unipê; é também professora da rede pública municipal e estadual de ensino.