Praticamente desconhecido dos leitores brasileiros, Aharon Appelfeld é o escritor da língua hebraica que mais títulos tem traduzidos para o inglês. Sua obra é um memorial ao universo desaparecido dos judeus da ´Mitteleuropa´, esse território fugidio e quase abstrato, a meio caminho entre o Oriente e o Ocidente da Europa, onde definham, há quase um século, os escombros do Império Austro-Húngaro.Criada a contrapelo da história, sua literatura é um desafio à catástrofe da Segunda Guerra Mundial. ´Expedição ao Inverno´ é um romance ambientado numa localidade de veraneio nos Cárpatos, na Romênia, às vésperas do genocídio, e este é o ambiente que Appelfeld recria neste romance cheio de lirismo contido, cuja paisagem luminosa é também a paisagem de sua infância. Os judeus que ali se encontram vieram de cidades que, até 1918, tinham sido parte do Império Austro-Húngaro. São falantes de alemão e entusiastas da modernidade. Mas sua crescente marginalização pelo nacionalismo romeno os leva à perplexidade e à depressão. Nessa localidade, eles encontram um velho rabi milagroso, último descendente de uma célebre linhagem hassídica, já no fim de seus dias. Divididos entre uma fé ancestral, que já não lhes parece aceitável, e o desejo de integração a uma Europa cada vez mais hostil, permanecem inconscientes da catástrofe que está por se abater sobre eles com a chegada das tropas nazistas, que varrerão o seu mundo do mapa. Mas uma virada surpreendente na narrativa parece querer reescrever a história do genocídio, e retratar a permanência e a perenidade daqueles valores humanistas que perpassavam o universo obliterado dos judeus da Europa Central.