É do impacto das doutrinas quânticas sobre os conceitos de espaço que Bachelard trata aqui: "Foi uma surpresa, nos primeiros tempos da era de Bohr, quando foi preciso interditar grandezas consideradas como possíveis à primeira vista. O espaço não era indiferença ao movimento! Não era uma forma pura, pronta para todos os preenchimentos! A física geométrica tradicional partia de um esquema ilusório." Tal descoberta teve tremendo impacto sobre o ato de conhecer. O caráter descontínuo da física quântica elimina a localização segura do objeto em uma região especificada do espaço, conferindo um caráter probabilístico à localização experimental. Até mesmo a mais precisa das experiências só nos fornece uma probabilidade, nunca um fato absoluto; quando for refeita não mostrará os mesmos valores. Decorre daí uma descrição estatística, necessariamente ativa, que se contrapõe ao senso comum, sempre em busca de uma experiência primeira que seja capaz de nos mostrar uma realidade indiscutível. A pesquisa se torna um empreendimento progressivo que busca reduzir o erro: “Não existe conhecimento primitivo que seja conhecimento realista”, diz Bachelard: “O mais real é o mais retificado.” Inverte-se a perspectiva. Antes, concebia-se a grandeza física como uma realidade em si, independente dos métodos de medida e de cálculo. Agora, a fonte primeira da objetividade não é mais o objeto, o termo final, mas sim o método de aproximação. Os valores de certeza estão mais ligados à preparação experimental do que aos resultados da experiência. Os resultados brutos, isolados, sempre flutuantes, não designam bem o real. Torna-se mais seguro designá-lo pelas operações que produzem o fenômeno. O que podemos reconstituir de maneira bem definida é a nossa atitude experimental, e a objetividade sobre a qual podemos nos entender é uma objetividade de informação, de enquadramento. Eis aí uma revolução epistemológica. É como Bachelard vê A experiência do espaço na física contemporânea.