Felícia Leirner esculpiu na arte moderna brasileira uma obra cuja permanência já é hoje visível não apenas em Campos do Jordão, onde está exposta, pois as formas de sua criação se tornaram, ao longo dos anos, a expressão singular de uma artista que fez o barro, o bronze e a pedra falarem sensivelmente de sua percepção de si, do mundo e dos homens. Mas essa fixação plástica traduz também, em uma espécie de muda encarnação, uma história de vida. Aportando neste Brasil para mudar a sorte de sua família e a sua própria, construiu ao lado de Isai, seu marido, uma indústria relevante na fabril cidade de imigrantes industriais e deu vazão às inquietações de sua interioridade, não só amparando criadores e iniciativas que se apresentaram no após-Segunda Guerra Mundial e que l evaram à fundação do Museu de Arte Moderna de São Paulo, às Bienais e ao extraordinário ciclo renovador das artes em nosso país. Com efeito, esse empenho ela duplicou por sua participação pessoal como criadora que filtrou, pelo seu poder e talento de plasmação, registros de uma pulsação poética e vibração humanas que têm ressonância nas suas estátuas e se inscrevem na reflexão de seus Textos Poéticos e Aforismos, na unidade da palavra e da matéria.