Falar do Brasil e sua cultura é tão difícil quanto descrever o que seria Cultura. Na verdade, trabalha-se no campo da História da Cultura com o fato de que existem culturas e que estas coexistem simultaneamente. Bakthin, analisando a obra de Rabelais (Cultura Popular na Idade Média: o contexto de François Rabelais) chegou à conclusão mais razoável sobre esta questão cultural: além de multifacetada ela tem uma circularidade que ascende e descende entre as diversas camadas sociais de modo que existe sempre um intercâmbio intercultural que mantém acesa a identidade de um povo ao passo que se vivencia as múltiplas manifestações culturais deste.
O Brasil não é exceção e, na verdade, razoavelmente conclui-se que não existe 'o Brasil', mas sim 'os Brasis' e este conjunto, que é um lindo mosaico, forma um bordado colorido como o trabalho dos artesãos que temos no Nordeste e Norte do país: difícil de compreender e explicar, mas fácil de admirar, contemplar e prender a atenção. É como a cor da fauna e flora da Mata Atlântica do Sudeste, ou as aves que voam sobre o cerrado, a diversidade dos campos do Sul. A vastidão territorial do Brasil é compatível com as suas muitas coexistências culturais pouco conhecidas pelo seu povo. Somos o 'matuto de nós mesmos'.
Recordar as mazelas que criaram o Brasil é relembrar nosso passado, homenagear nossos ancestrais e, por fim, render agradecimentos às nossas tataravós, avós, mães, índias, africanas e prostitutas que não desistiram de fundar o Brasil para que pudéssemos viver hoje nele. Quanta ousadia deste autor render homenagem às pessoas que nos dias atuais são desprezadas como não sendo plenamente humanas ou vistas como menos cidadãs que os demais!