Conto é como corrida de cem metros rasos, tem que ter pegada, não pode perder o fôlego, mas atenta tirar o ar da garganta do leitor. A complexidade dessa aritmética gramatical parece tornar-se simples nas linhas dos contos de Ricardo Lahud. Desde a epígrafe de cada conto não esconde " ao contrário, escancara "suas preferências. Navega preciso por autores como Kafka, Charles Dickens, Drummond e Nelson Rodrigues; do regionalismo de Simões Lopes Neto ao universo de Clarice Lispector, e, claro, de Pessoa, o Fernando do título. Apesar das díspares referências, os contos selecionados para este livro guardam entre si um fio de Ariadne, invisível, mas sempre presente, conduzindo o leitor a um universo que mescla o fantástico ao cotidiano, o insólito ao prosaico. Cada conto vem precedido de epígrafe de um autor cuja obra Ricardo Lahud flerta, às vezes elo estilo, como em "Amantes", com epígrafe de Nelson Rodrigues, outras com gênese da temática, como um conto que dá título ao livro. Como o poeta, Lahud é um fingidor, finge ser simples escrever sobre a complexidade do cotidiano e transforma palavras em um jogo de mostrar e esconder, instigando o leitor a encontrar outras referencias. Como diz Moacyr Scliar no prefacio deste livro, Ricardo Lahud surpreende o leitor: o final de cada conto é um convite para o próximo. Se você não acredita, lanço aqui desafio: escolha aleatoriamente um conto, leia e veja se consegue parar de ler os demais até esgotar a última linha e ainda fica com o gosto de quero mais.