"A capacidade de automonitoramento reflexivo é uma das componentes mais distintivas das ciências sociais. Elas reexaminam constantemente suas realizações e, desse modo, se repensam. Este é um mecanismo crucial no avanço do conhecimento científico. No Brasil, esse papel vem sendo realizado notavelmente pela área de pensamento social. Fernando Henrique Cardoso num ensaio memorável de 1993 foi um dos que lançou o problema, estudando os “livros que inventaram o Brasil”. Pois, bem, agora chegou a vez da sua obra ser repensada.
Karim Abdalla Helayel nos apresenta a mais completa e a mais consistente intepretação do importante sociólogo que ajudou a colocar as ciências sociais brasileiras no mundo. E o mundo nas ciências sociais brasileiras. A Teoria da Dependência de Cardoso é ainda hoje um paradigma incontornável para as ciências sociais e as teorias da modernização, com seus impasses e eventuais dificuldades e limites, inclusive.
Tomando como eixo da análise as relações complexas entre história e teoria, Helayel explora novas faces da obra sociológica de Cardoso em seu contexto, mas a reconstituição aqui é apenas parte de um método, e não um objetivo em si mesmo.
O desafio do livro é mostrar os sentidos teóricos mais duradouros das formulações de Cardoso e sua capacidade de nos interpelar também contemporaneamente. O autor enfrenta magnificamente a tarefa tão complexa. Conseguimos compreender a relevância e o significado da sociologia de Fernando Henrique Cardoso no seu e para o nosso tempo. Até porque uma das categorias centrais da análise é justamente a de processo social, que permite pensar o particular e o geral, o contingente e o estrutural, a escolha e os condicionantes históricos, de modo articulado.
Fernando Henrique estava merecendo um estudo com essa envergadura e qualidade. O livro não simplifica a relação autor e obra, ou indivíduo e sociedade, explicando a obra pela biografia. Mas os interessados na notável trajetória política deste ator central do nosso tempo e presidente do Brasil encontrarão elementos suficientes no livro para compreender como, nesse caso, um grande intelectual, um grande sociólogo, se escondia por trás do político."
— André Botelho (UFRJ)