Monteiro Lobato é conhecido pelo grande público por seus livros infantis, mas pouca gente sabe que sua obra adulta é uma das mais ricas da literatura brasileira. O autor foi também um ativista apaixonado, que sonhou com o progresso da indústria e com as liberdades civis. Neste contexto, escreveu dois artigos que se tornaram referência para a política da primeira metade do século 20: Ferro e O voto secreto, reunidos em volume único pela Editora Globo.
O primeiro traz textos sobre as mais modernas técnicas de produção de aço usadas na América do Norte, e que poderiam ser aproveitadas para o desenvolvimento da indústria brasileira a partir da abundância da reserva de minérios. Lobato via no tripé formado por ferro, petróleo e estradas a chave para o desenvolvimento de um País tristemente agrário, com sua base de exportações resumida à monocultura do café. O artigo teve enorme repercussão quando lançado em 1931. Seria reeditado em 1946 e incluído nas “obras completas” organizadas pelo autor.
Já "O voto secreto" é baseado em uma corajosa carta que Monteiro Lobato enviou ao então Presidente da República, Arthur Bernardes, enquanto a cidade de São Paulo vivia nos escombros do terrível bombardeio federal, ordenado para sufocar a revolta de Isidoro Dias Lopes em 1924. A carta faz um balanço da política nacional para Bernardes, que manteve o estado de sítio durante todo seu mandato. Nela, há o apelo para o fim do voto aberto, de “cabresto”, que sustentava a velha república do café-com-leite. O voto secreto, como já sabia o autor, é o fundamento de todo sistema democrático.
Num país que – apesar dos muitos avanços – ainda se depara com uma série de desafios políticos, econômicos e tecnológicos, ler o Lobato polemista é compreender melhor seu tempo, mas também encontrar inspiração na coragem e retidão deste enorme brasileiro.