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    FIGURANTES

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    Sinopse

    Rainer Maria Rilke frequentava o 
    Jardin des Plantes,
     em Paris, para “aprender a ver”. Um exercício ocular, uma contemplação em câmara lenta, para habituar a vista aos aspectos que o observador comum julgava irrelevantes.



      Sérgio Medeiros, com estes 
    Figurantes,
     transfere a visão direta, ainda que detalhista, para um surpreender introspectivo do que “ficou sem ser visto”. Um olhar pelos interstícios, a captação do momento estático entre um fotograma e outro, o 
    flash
     que intermedeia a visão real e a percepção imaginária. Ele “vê” o que só pode ser visto se abstraída a impressão visual oftálmica em favor da visibilidade extrassensorial. Seriam “fragmentos de contemplação” que, não raro, associam sua espectralidade a um requintado poder associativo de sensações olfativas e táteis.


      São figurantes ainda não escalados para os seus papéis na vida real ou que já a transcenderam e nos levam ao “pós-espetáculo” de uma realidade virtual.


    Ivo Barroso



      São muitos, mais de cem, os “figurantes” de que trata Sérgio Medeiros neste livro de poemas. Quem são eles? Ou melhor: 
    o que 
    são eles? Insetos, talvez; pássaros; mendigos – ou qualquer outra coisa que se pareça com isso. Isso o quê, exatamente?


      Stéphane Mallarmé dizia que na descoberta, na decifração de um símbolo poético está boa parte do prazer do leitor. Mas a frase não se resume a um jogo de esconde-esconde, aparentemente meio frívolo e “decadentista”, entre quem escreve e quem lê. Quando – para citar um exemplo famoso da estética simbolista – um leque de mulher é “traduzido” em verso e se transforma no “branco voo fechado que pousa sobre o fogo de um bracelete”, está em curso algo mais do que uma simples charada de salão.

      O que se celebra é o poder da poesia para “instabilizar” as coisas – um leque é uma asa branca, uma asa fechada é um voo, um voo pode ficar pousado, mas não sobre a terra, e sim sobre o fogo, e nada que pousa, por assim dizer, fica no mesmo lugar. A forma “fechada” do verso, em seu silêncio escrito, paradoxalmente se abre num leque de sentidos, e o som das palavras, que batem como asas, sempre se ouve quando se lê.

      Seja como for, pensamos sempre na metáfora como uma “aproximação” entre coisas distantes, reunidas por alguma semelhança secreta. Sérgio Medeiros faz, a meu ver, o caminho inverso: distancia, isola, separa os elementos da metáfora – de modo que cada um parece funcionar por si mesmo, em anotações de extraordinária precisão.

      Sobre o centésimo nono “figurante”, por exemplo, sabemos apenas que “No nevoeiro, ele adere ao morro/ Ou se planta, repleto de espadas”. Como já estamos no final do livro, nossa atenção encontra-se suficientemente treinada para perceber do que se trata – e de qual “isso”/ ou de qual “aquilo”, Sérgio Medeiros está falando. Mas a respiração entre um verso e outro, o “branco” entre um poema e o seguinte, deixam cada imagem funcionar por si. Antes de decifrar “a coisa”, imaginamos tudo o que, como um nevoeiro, seja capaz de “aderir” ao “morro” – a começar pelo próprio nevoeiro. Em outras palavras, a imagem de um nevoeiro “aderindo” ao morro já seria poética em si mesma; impõe-se sozinha à nossa consideração, à nossa fantasia.  Um salto no tempo e nas circunstâncias é feito, então, e temos diante dos olhos algo que “se planta, repleto de espadas”. O leitor se confronta com uma imagem de natureza e conotações totalmente diversas, como se jogado de repente em outro fuso horário.


      Como unificar as duas imagens num sentido só? Lendo e relendo 
    Figurantes
    , aos poucos essa operação vai se tornando possível para nós – porque, como em toda grande poesia, intelectualismo e sedução nunca se separam realmente na obra de Sérgio Medeiros. A metáfora mais hermética pode ser, vá lá o termo, penetrada, quando a linguagem se entrega, com a intensidade e a arte que vemos aqui, a erotizar integralmente o mundo.



    Marcelo Coelho

    Ficha Técnica

    Especificações

    ISBN9788573213355
    Pré vendaNão
    Biografia do autorSérgio Luiz Rodrigues Medeiros é um poeta, artista visual, dramaturgo, ficcionista, ensaísta, tradutor e professor brasileiro. Ganhou o Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria Poesia, com a obra A idolatria poética ou a febre de imagens.
    Peso50g
    Autor para link
    Livro disponível - pronta entregaSim
    Dimensões19 x 14 x 5
    IdiomaPortuguês
    Tipo itemLivro Nacional
    Número de páginas120
    Número da edição1ª EDIÇÃO - 2021
    Código Interno647781
    Código de barras9788573213355
    AcabamentoBROCHURA
    AutorMEDEIROS, SÉRGIO
    EditoraILUMINURAS
    Sob encomendaNão

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