A odisseia das crianças enviadas secretamente para o outro lado da Cortina de Ferro. Álvaro Cunhal exilou-se na Uniao Soviética com a companheira, a filha bebé e uma cunhada, para evitar ser recapturado pela PIDE após a monumental fuga colectiva do Forte de Peniche, em Janeiro de 1960. A instalaçao do secretário-geral na Uniao Soviética no ano seguinte, provocou assim uma ruptura na História do PCP, na medida em que abriu portas para o primeiro exílio da direcçao comunista e a progressiva constituiçao de colectivos de exilados em Moscovo, Praga, Bucareste, Paris e Ivanovo. Álvaro Cunhal autorizou ao longo dos anos seguintes a saída para o exterior dos funcionários que estavam em risco de serem presos pela PIDE, companheiras e viúvas, e de dirigentes com capacidades específicas para executar no exílio tarefas de apoio à luta em Portugal. Esta é uma realidade até agora silenciosa. Trata-se de um exílio nao reconhecido, transitório e de compromisso, na medida em que, apesar do comunismo ser uma ideia extra-territorial, para o PCP o interior foi sempre o lugar da sua legitimaçao revolucionária.
Apesar de Álvaro Cunhal só ter regressado a Portugal após o 25 de Abril de 1974, sempre defendeu que a revoluçao tinha de ser feita com o povo e pelo povo e tinha de ser feita no interior e nao a partir do exílio. No entanto, ao longo de toda a década de 60, permitiu a formaçao destas famílias de comunistas exilados, e assistiu depois ao seu desmoronar devido aos refluxos provocados no movimento comunista internacional pela invasao da Checoslováquia e pela ascensao dos grupos maoístas nas membranas da esquerda. A combinaçao invulgar de circunstâncias resulta numa história nova do PCP e revela também uma realidade até agora desconhecida: a desagregaçao das famílias dos funcionários clandestinos, cujos filhos foram enviados secretamente para a Uniao Soviética. Estes filhos da clandestinidade assumem-se hoje como os danos colaterais da luta dos seus pais. As duas primeiras cria