O sugestivo título do livro de José Humberto da Silva, baseado em sua dissertação de mestrado - Itinerância juvenil para o mundo do trabalho: discursos, práticas e significados - indica múltiplas elaborações pelo autor. Enfocando um dos mais sérios problemas do Brasil, o desemprego juvenil e as políticas de Estado para lidar com tal questão, desvenda discursos e significados para diversos atores nesse drama que comporta também esperanças, expectativas de tantos jovens e retórica de tantos políticos. Tive o privilégio de estar na banca de José Humberto e me familiarizar com um trabalho que já nasceu sério e importante e que agora se comparte com o público mais amplo. O trabalho se destaca pelo investimento em leituras sobre diversos temas afins, com redação fluida e cativante, bem como traz postura política em prol da equidade, sendo crítico ao modelo neoliberal e suas conseqüências, em particular com relação aos jovens e à educação no Brasil, sem escorregar em declarações de princípios sem lastro acadêmico. Destaco da pesquisa a crítica ao ideário dos programas de agências internacionais e do credo neo-liberal para a pobreza, como a ênfase na qualificação, na educação - sem questionar sua qualidade e conteúdo. De fato, é comum emtais análises, como as do Banco Mundial, rebatizar teorias do capital humano, até com o uso desautorizado de termos cunhados por sociólogos críticos, como Bourdieu e outros relacionados com os temas de capital cultural e capital social. Implicitamente, o mesmo viés: cabe aos indivíduos esforçarem-se, apostando em méritos, desempenhos, competências próprias, para saírem da pobreza. Destaco como pertinente também nessa linha a ênfase de José Humberto da Silva na crítica ao conceito de empregabilidade, outro abre-te sésamo do léxico neo-liberal.