Depois do belo livro “No dorso da palavra” (edição primorosa da Buqui, 2015, Porto Alegre), Lígia Savio ressurge com um novo livro solo, “Fios de Aço”. Coletânea de poemas que podem provocar profundo impacto no leitor, já que as imagens poéticas, como o próprio título sugere, foram tecidas em meio ao duro, por vezes violento, exercício de viver. O Eu-poético já não nutre as ilusões de um jovem aprendiz. No caminho que lhe coube, precisou “comer o pão mais pedra que nem o diabo amassou”. Mas, aprendeu também, a ser desdobrável e dar a volta por cima, até mesmo na morte que não é o fim pois o sujeito lírico volta ressuscitado, como já queria Maiakovski. A autora, exímia conhecedora da tradição, com ela dialoga, seja com a mitologia grega (imagem de Afrodite na concha, aliás a concha é uma imagem recorrente da poeta) ou com a Bagagem de Adélia Prado, só pra citar alguns casos. Simultaneamente, provoca rupturas nessa mesma tradição, no exercício de procurar-se, de reconhecer-se, nem que seja de forma fragmentada: “Te segura, então, nos destroços nos escombros de um barco roto que talvez te conduzam a uma praia. (Ali, numa concha quebrada num caco de espelho, espera te enxergar...)”