tem narrativa de romance, mas não é. Exceto pelos nomes das pessoas citadas, que foram trocados para proteger suas identidades, tudo aqui é real. Com um texto envolvente, Webster conta como e por que trocou a possibilidade de uma bela carreira acadêmica em Oxford por uma vida degradante no submundo cigano da Espanha, desesperado por encontrar algo que ele sequer sabia o que era, mas que tinha nome - duende. 'Flamenco' transcende o mero relato de viagens e se transforma num livro de memórias fascinante, que recupera a história do autor e da cultura espanhola. Duende, no caso, não é a folclórica entidade sobrenatural. Não há lugar para esoterismo na vida bandida de Webster. Na tradição flamenca, duende é algo impossível de explicar. É preciso sentir. Só quem se deixa tragar plenamente pelo flamenco é capaz de compreender, seja cantando, dançando, tocando ou mesmo assistindo a uma apresentação do gênero. Para uns, duende é uma sensação inebriante de vitalidade trazida pelo ritmo da música. Para outros, pode ser um transe ou até a morte. Sem saber por quê, Webster precisava disso, mesmo tratando-se de algo tão abstrato, até assustador. E a única maneira de satisfazer esse estranho desejo é mergulhando fundo numa viagem sem volta ao cerne do flamenco, na qual ele embarcou sem pensar duas vezes. Nesta viagem de autodescoberta, Webster procura as origens do flamenco e de si mesmo. E encontra uma cultura bem mais profunda e dramática do que aquela colorida que seduz turistas de todo o mundo.