Partindo da região da Mata Atlântica, a paisagem do Brasil Central pareceu, aos colonizadores, mais densa que as larguezas campestres e mais aberta que as florestas. Referida como 'campos fechados', ou 'campos cerrados', passou a ser chamada, nos dias de hoje, simplesmente de Cerrado. Sua vegetação foi descrita, pelos naturalistas europeus do século XIX, como formada por árvores tortuosas, enfezadas, esparsas aqui e ali, e as chapadas cobertas por arbustos foram designadas como carrascos ou florestas anãs. Desde então, o Cerrado, assim como a Caatinga, é visto como uma espécie de 'primo pobre' da ecologia brasileira, destinado a ser objeto de rápida destruição. Visão que é retratada na Constituição de 1988, em que não receberam a condição de patrimônio nacional, como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, o Pantanal Mato-Grossense e outros biomas. Marcada pela convivência com o Cerrado e a Caatinga, a sociedade sertaneja, herdeira de tradições culturais milenares dessas regiões, tem tido tratamento semelhante. Tornou-se uma espécie de espelho invertido a ampliar, pela negatividade, as qualidades que a sociedade urbana do litoral concebe como positivas. Nos vastos espaços do Brasil de dentro, o Sertão Mineiro, área dominada pelo Cerrado, se diferencia tanto da região leste do Estado como também dos outros sertões do Nordeste e do Centro-Oeste. Eternizado pela obra de Guimarães Rosa, sua história ambiental é aqui contada desde a sua ocupação, há mais de 12 mil anos, até as primeiras décadas do século XX, em uma longa trajetória de formação do 'ser tão mineiro'. O livro traz os seguintes temas - História Ambiental e Etnoecologia - o Cerrado e o Sertão Mineiro em debate; A pré-história no Sertão Mineiro; As culturas indígenas do Cerrado Mineiro; Os bandeirantes no Sertão Mineiro; europeus com 'tecnologia indígena'; Das muitas riquezas que havia no Sertão Mineiro do Setecentos; Sertão rebelde; O progresso rumo ao Sertão.