O autor cita que a ideia deste livro surgiu de uma recusa: não aceito de maneira alguma a categoria “povo”. Sobretudo porque esse “universal” foi construído para homogeneizar as relações e experiências que são sempre únicas, conferindo aos grupos acordos e vínculos expressos tanto pelo efêmero quanto pelo permanente, numa equação que jamais se repete. O povo não existe! Nem tampouco o popular, o senso comum, o vulgo. É uma forma de empacotar a diversidade numa embalagem de cristal: pode até ser bonito, mas nada diz, nada informa, exceto o vazio assustador de seu reflexo. Junto com a categoria “povo”, o folclore nasceu para aprisionar aquelas experiências sob um rótulo sempre pejorativo, porque rótulo de subalternidade e de menosprezo, ainda que sob as máscaras da curiosidade e do paternalismo, ou, mais recentemente, do consumo analgésico de cultura popular. O autor resgata a alegria das relações patrocinadas pelo grupo em oposição à teoria, que torna a realidade tão chata como uma folha de papel, sobre a qual rabiscamos arabescos. Pois no fazer da alegria, no círculo mágico que nasce das sociabilidades coletivas, incomodado, o poder geralmente se ausenta e fica de tocaia, aguardando a oportunidade em que a intensidade do jogo reflui e os sujeitos se afastem para suas solidões. Na primeira parte, chamada Lore, resgata essas práticas coletivas singulares e não programáveis. Apresenta sugestões de sociabilidades que potencializam a alegria além de critérios que estimulem o resgate e o fazer de outras experiências. Na segunda parte, chamada Folk, analisa o poder e a historicidade de uma tradição bastante recente que retira de seu tempo e de seu ambiente a ventania e a enclausura num palco. Aponta também as razões que conferem ao poder a leucemização dessas experiências.