Na transição da fotografia para o cinema, um grupo de nova-iorquinos operou uma revolução silenciosa no coração da linguagem do cinema. Sustenta-se nestas páginas a ideia de que não podemos pensar o cinema moderno ignorando a especificidade estética e as circunstâncias sociais e políticas da fotografia de rua nova-iorquina do pós-guerra. Por trás de Jean-Luc Godard, François Truffaut, Jean Rouch, Jonas Mekas ou John Cassavetes existe uma história clandestina de fotógrafos que se aventuraram no cinema e aí convocaram a liberdade da fotografia.
Produziram, com isso, antes de toda a gente, um verdadeiro cinema de rua saído do contexto do pós-guerra e que, nalguns casos, realizou de facto alguns dos preceitos realistas de André Bazin e Siegfried Kracauer
Entre um cinema ainda feito sob o signo da Hollywood clássica, o impacto do neo-realismo italiano, a Nouvelle Vague, o cinema directo e o New American Cinema, os outsiders e amadores Morris Engel, Ruth Orkin, Helen Levitt, James Agee, Lionel Rogosin, Weegee e Rudy Burckhardt encontraram nas ruas as coordenadas de um cinema livre que pensa em fotografias.
É a partir deste lugar sinóptico que se propõe a modernidade cinematográfica como (est)ética fotográfica. Este livro guarda ainda uma inesperada dedicatória a um homem de todos os tempos que mais do que ter sido do cinema se confundiu (ainda se confunde) com o cinema ele mesmo: Charles Spencer Chaplin.