A poesia se encontra na fronteira entre a razão e a sensibilidade, embora se aproxime mais desta do que daquela. A razão cumpre seu papel ao organizar o sentido do que se sente, afinal é inescapável ao ser humano a condição de animal do logos, ou seja, um ser que se forma e se caracteriza pela palavra. Por conta disso, a poesia pode ser considerada o mais nobre e o mais difícil artesanato: a capacidade de perceber o mundo e dar-lhe sentidos, sob uma perspectiva única, cria o assombro característico da obra poética. Notar algo a mais no que está diante dos olhos, cotidianamente condicionados, é o traço definidor da tradição em que navegam os criadores da poesia, seres que vivem a fantasia, mas acima de tudo experimentam o seu tempo presente. A poesia de Lincoln Fabrício segue esses passos, evocando o que por estar ao alcance das mãos pode parecer distante. Assim, desmistifica mas mitifica seu mundo, até torná-lo um motivo que gravita por si mesmo, e ganha a autonomia da ideia. Lendo seus poemas, nos pegamos volta e meia diante de frases definidoras, com sabor de aforismos. Porém não aforismos que procurem um esclarecimento bem vestido dos conceitos, mas enunciados que expõe a nudez crua dos sentimentos. William?Teca Primavera 2019!