Há na obra de Alberto Pucheu, 'A Fronteira Desguarnecida', uma característica rara na poesia brasileira contemporânea: um projeto. Desde seus primeiros livros, ele nos traz uma investigação coerente e própria em relação à linguagem, sem nunca cair no mero exercício de estilo. Essa investigação pode ser percebida em dois elementos recorrentes de seu texto. O primeiro é a dissolução entre gêneros, especialmente ensaio e poesia. A segunda é a experimentação com fragmentos de discursos ready-made, capturados seja na rua, na televisão ou em mensagens eletrônicas de amigos. É um momento em que o poeta se torna, mais do que um criador, um ''arranjador'' de textos alheios, para usar o termo por ele mesmo cunhado. Num momento em que a arte se submete cada vez mais a um princípio de realidade, como se precisasse de elementos externos para se autentificar, a obra de Pucheu caminha num sentido inverso: nunca há nele um simples registro ou inventário. Ele se utiliza do discurso alheio para forjar uma expressão própria, informada e experiente. É essa expressão, sempre permeada de beleza e originalidade, que podemos apreciar na íntegra, complementada por uma reunião de entrevistas que demonstram a possibilidade de um projeto consciente e fundamentado na poesia contemporânea, fato muitas vezes negado por alguns críticos atuais. Isso, por si só, já valeria a leitura atenta desse livro. Mas há, acima de tudo e sempre, a poesia.