Almas, o que são? Fios de luz que escorrem pelo infinito sem vãos ou sopros de vida inomináveis? Vapores quentes que ascendem, esfriam e decaem na escuridão do silêncio? Serão, ainda, o fardo dos corpos que desfilam solitários em vida, ou, quem sabe, um delírio involuntário de Deus, que deu forma a tudo que pulsa para além dos abismos e que jamais a nossa compreensão, sempre frívola e indefectivelmente torpe, será capaz de decifrar? Imersas, portanto, sob águas enigmáticas, as almas desafiam o Caos, o Aion, o Fiat Lux, o Big Bang, o Doomsday; e todas as tentativas que justificam a simplicidade do vento, que voa sem asas, sem direção, para todos os lados; das flores que, em sua beleza frágil, resistem à dor, à lágrima, à despedida e ao Tempo que, debalde, luta para vencê-las e sofre em sua impotência colossal; e, por fim, as pedras que, amorfas e sem genealogia, abrigam sem vida a existência que preenche as vagas dos mundos e que, errantes e em desatino cíclico e eterno, se dispersam no Cosmos. Pedras grandes e pequenas; rochas e montanhas; seixos e grãos de areia, em repouso e arrastadas, inteiras e dilaceradas; sedimentos vindos do pó estelar; ásperas e lisas, duras e macias; sem cor e coloridas; opacas e brilhantes; terráqueas e extraterrestres; frias e quentes; vulcânicas e meteóricas; minerais de todos os tipos, de todas as dimensões e de todos os lugares; incabíveis em folhas de papel, mas libertadas pelas mãos do poeta, que burila suas palavras, pedras sempre brutas e lascadas feitas para revelarem em diamantes poéticos a verdade em forma de cale-se: o graal que as almas portam, dormentes em leitos de vida e garimpadas indelevelmente para a morte.