Sob uma aparência pragmática, a gestão constitui uma ideologia que legitima a guerra econômica e a obsessão pelo rendimento financeiro. Os “gestionários” instalam, na verdade, um novo poder gerencialista. Trata-se não tanto de um poder autoritário e hierárquico, e sim de uma incitação ao investimento ilimitado de si no trabalho, para tentar satisfazer os próprios pendores narcísicos e as próprias necessidades de reconhecimento. Trata-se de instilar nas mentes uma representação do mundo e da pessoa humana, de modo que o único caminho de realização de si consista em se lançar totalmente na “luta pelos lugares” e na corrida para a produtividade. Ora, a fim de melhor garantir seu empreendimento, essa lógica transborda seu campo e coloniza toda a sociedade. Hoje, tudo é gerenciado — as cidades, as administrações, as instituições, mas igualmente a família, as relações amorosas, a sexualidade... O Ego de cada indivíduo se tornou um capital que ele deve fazer frutificar... Essa cultura do alto desempenho, porém, e o clima de competição generalizada, põe o mundo sob pressão. O assédio se banaliza, acarretando o esgotamento profissional, o estresse e o sofrimento no trabalho. A sociedade é apenas um mercado, um campo de batalha insensata, em que o remédio proposto aos malefícios da guerra econômica consiste sempre em agravar a luta.