"Um" poeta apenas poeta e tão-somente e só poeta, ou uma multidão de diferentes vozes? "Tangedor de sonoridades?" "Percussionista de palavras?" A resposta única é múltipla: todos! E todos abarcados num só homem, Waly Salomão, que se autodefinia "gigolô de bibelôs" - denominação que, aliás, dá título ao livro, lançado originalmente em 1983, e que, agora, cinco anos após sua morte. Em suas páginas, o leitor é socado no estômago pela pungência de uma poesia que, verborrágica, dá forma ao delírio, escrita por quem, segundo o romancista e crítico Silviano Santiago, "sabia que poderia ter sido o sucessor de Drummond". O poeta, grande leitor da poesia universal e do mundo, ruminava todas as influências - do inglês William Blake ao nosso João Cabral de Melo Neto - para depois regurgitá-las em seus poemas concebidos à "parangolé" - vocábulo que exprimia a "antiarte por excelência", de acordo com Hélio Oiticica, artista plástico, melhor amigo de Waly. Meio a tantas facetas líricas, um poeta quetranspirava um quê de dionisíaco em seu jeito performático, em poemas prontos para transbordar em declamações exaltadas, mas que buscava o equilíbrio apolíneo. Além dos poemas de seu primeiro livro, Me segura qu’eu vou dar um troço, de 1971, já um clássico da contracultura, esta reedição traz reproduções da revista Navilouca, marco da poesia alternativa/marginal tupiniquim, criada em parceria com Torquato Neto; versos com experimentações sonoras; poesias flertando com o concretismo; e, ainda, letras de diversas canções, musicadas por grandes nomes da MPB, como Jards Macalé ("Vapor barato"), Caetano Veloso ("Mel", "Talismã"), Gilberto Gil ("Musa cabocla") e Moraes Moreira ("A cabeleira de Berenice") .O vago não é vago em Waly Salomão - essavaga conjectura de senso comum que tenta simplificar tudo. Ele dava valor ao ofício de sua arte - "ah vale a pena ser poeta" - e se debruçava sobre ela com afinco e suor - "meu segredo é que sou rapaz esforçado".