Essa obra pretende contribuir para a formação docente, para que as professoras e os professores de português e de outras disciplinas conheçam mais profundamente e com melhores bases teóricas o seu objeto de trabalho, o português brasileiro.As propostas contemporâneas de educação em língua materna rejeitam veementemente o tradicional “ensino de gramática”, no qual a maior parte do tempo dedicado às aulas de língua era gasto com fixação de nomenclatura e análises de frases soltas e descontextualizadas. É preciso levar os aprendizes a refletir sobre a língua que usam, mas isso pode ser feito de maneira intuitiva, por meio de atividades que chamamos de epilinguísticas, sem o emprego de terminologia gramatical e sem a obsessão classificatória tradicional. É claro que a classificação pode ser apresentada, mas não como a finalidade em si mesma da educação em língua materna. Em resumo: não se deve ensinar gramática na escola (no sentido tradicional de “gramática”), mas quem vai ensinar na escola deve conhecer muito bem a gramática da língua.Assim como outras obras recentes dedicadas ao estudo e à descrição do português brasileiro contemporâneo, a Gramática pedagógica do português brasileiro exibe um projeto epistemológico próprio, uma concepção de língua e de linguagem que abraça determinados construtos teóricos e rejeita outros. Além disso, traz uma inovação na produção de obras gramaticais: ela não separa a descrição histórica da descrição atual da língua, isto é, não separa a diacronia da sincronia, mas faz uma abordagem dos fenômenos linguísticos que podemos chamar de pancrônica, em que passado e presente se fundem em busca das explicações mais razoáveis para os fatos linguísticos.