A passagem da sociedade industrial para a era da informação começou nos anos 60 e culminou, nesta virada do milênio, com o frenesi em torno das novas tecnologias, da Internet e do comércio eletrônico. Mas a revolução vivida na esfera econômica coincidiu com outras mudanças - nem sempre positivas - na vida social. Durante estes mesmos anos, a criminalidade cresceu, afugentando os habitantes dos grandes centros urbanos. Os laços familiares se afrouxaram: os casamentos são menos freqüentes, os divórcios mais constantes e a gravidez fora do casamento é um fato. Diminuiu a confiança que os cidadãos depositam em seus governos e em outras instituições. Esta é a "grande ruptura" evocada no título deste novo ensaio do autor do polêmico O último homem e o fim da história. Um estudioso da chamada sociedade pós-industrial, Fukuyama é partidário dos princípios básicos do liberalismo. Reconhece no entanto que a chamada "destruição criativa" ocorrida no mundo dos negócios também rompeu muitas das nossos relações sociais. "A cultura do individualismo intensivo, que no mercado e no laboratório conduz à inovação e ao crescimento, invadiu o domínio das normas sociais, onde corroeu virtualmente todas as formas de autoridade e enfraqueceu os laços que mantinham unidas famílias, vizinhanças e nações", escreve ele. Em meio ao culto ao individualismo desenfreado, "a única regra que resta é o desrespeito às regras". Para o autor, este é o calcanhar-de-aquiles das sociedades liberais: "Sua vulnerabilidade é particularmente visível na mais individualista das democracias, os Estados Unidos." Em 'A grande ruptura: a natureza humana e a reconstituição da ordem social', Francis Fukuyama examina cuidadosamente as estatísticas para precisar as transformações em curso nas sociedades dos países do Primeiro Mundo. Entra também nos debates sobre os valores e a ética, discutindo posições à esquerda e à direita.