Este é um livro escrito contra a maneira como a filosofia vem sendo ensinada e pensada. Nesse sentido, poderia ser classificado como um manual antiplatônico, já que desdenha os planos gerais, ri das respostas dogmáticas e denuncia os meros jogos de palavras. Sem dúvida, Platão não é culpado por todas as leituras superficiais que lhe foram dedicadas, as quais o apresentam como um pensador da ordem, da certeza e da reação. Contudo, o pressuposto nietzschiano do qual o autor parte é que com Sócrates e seus sucessores aquele saber originário que surgira com os filósofos pré-socráticos se perdeu, transformando-se muito rapidamente em algo próximo de uma religião acrítica, hoje objeto de culto nas universidades. O pensamento pré-socrático não conhecia barreiras, sempre espantado com o simples fato da existência, esse grande mistério que o discurso racional jamais pôde desvendar. Nos fragmentos pré-socráticos, beleza e verdade coincidem, apontando ambas para uma experiência vital que está além da razão formal e tecnicizante que hoje esmaga nossas sociedades. Armados com uma linguagem poética que não nomeava as coisas, mas era as próprias coisas, poetas-pensadores como Heráclito, Parmênides e Empédocles demonstraram que o todo e a parte se equivalem. É essa a proposta que se tenta resgatar aqui ao pensar problemas e temas da filosofia contemporânea a partir dos filósofos originários. Poesia, mística, matemática, cabala, física quântica, teologia e até infelizmente alguma jurisprudência – parafraseando Fausto – se encontram nestas páginas. Pretende-se assim superar a visão parcial de mundo imposta pela tra(d)ição da filosofia universitária, essa tediosa disciplina da mente que, ao lado das disciplinas do corpo, existe apenas para nos tornar mais e mais dóceis. Ao contrário, com a filosofia pré-socrática as ideias se tornam, de novo e sempre, perigosas.