Você sabe quem foi Léon Bouly? Eu também não sabia. Pois Bouly foi o responsável por inventar um aparelho que batizou de cinematógrafo, do grego kinema, ´movimento´, e graphein, ´escrever´. Se faço aqui uma reverência a Bouly, não é só por ele ter criado o termo que mais tarde seria abreviado para cinema, mas também porque, ao criá-lo, ele foi a primeira pessoa a associar cinema e escrita. Esta edição é dedicada ao vasto e inesgotável território demarcado por Bouly: escritores que fazem filmes e cineastas que fazem livros; contos que parecem roteiros e roteiros que parecem contos; imagens filtradas por palavras e palavras filtradas por imagens; e, sobretudo, o cinema como mitologia, como mote e como método, a quem a literatura presta sua homenagem. — Gustavo Pacheco "Cento e vinte e quatro anos depois da sessão dos Lumière, já não nos assustamos quando o comboio avança na nossa direcção. Ou será que ainda nos assustamos? Habituámo-nos às imagens em movimento, mas continuamos assombrados com a sua força visual e emotiva, tão assombrados como em 1895. E porque entretanto transitámos de uma civilização do verbo para uma civilização da imagem, o cinema e as outras imagens audiovisuais confundem-se agora com o nosso imaginário. De modo que não sabemos o que vimos verdadeiramente visto ou o que imaginamos por termos visto. Alguns dos textos desta edição confirmam uma evidência: a evidência de que o cinema é, desde a infância, uma das maneiras de conhecermos o mundo. Conhecemos o mundo cinematograficamente, quer dizer, incorporámos na nossa forma mentis uma linguagem, uma imagética, uma gramática, uma suspensão voluntária da descrença." — Pedro Mexia Textos de: Marçal Aquino, Roberto Bolaño, Duncan Bush, Manuel S. Fonseca, João Miguel Fernandes Jorge, Jonathan Lethem, Samir Machado de Machado, Aoko Matsuda, Todd McEwen, João Rosas, Clara Rowland, Jeremy Sheldon, Letícia Simões, Veronica Stigger, Colson Whitehead Direção de imagem: Daniel Blaufuks Ensaios fotográficos: Inês d´Orey e Letícia Ramos