No verão de 1963, o reverendo Martin Luther King dizia aos manifestantes da marcha pelos direitos civis em Washington que tinha um sonho - seu vozeirão ecoava no microfone o histórico "I have a dream..." As mais de 250 mil pessoas presentes ao ato queriam "apenas" comida, diversão, arte, liberdade, igualdade, remodelação total da sociedade e da cultura americana. Todos pareciam respirar uma inesgotável atmosfera de otimismo naqueles anos em que o ritmo de crescimento e fartura parecia longe de perder o fôlego, em que a Casa Branca era ocupada pelo jovem e emblemático casal Kennedy e havia no ar a sensação de que tudo era possível. E era. Pelo menos em Greenwich Village, o bairro nova-iorquino transmutado em centro nervoso da cultura contemporânea, efervescente em manifestações de arte de vanguarda. Nos limites do baixo Manhattan, uma revolução ruidosa estava em pleno curso. Era a explosão da pop art, dos espetáculos Off-Off-Broadway, do Judson Dance Theater e do Living Theater, o Fluxus, a dança... todo mundo questionando conceitos e arte. Andy Warhol apresentava o cinema pop ao mesmo tempo que começavam a se destacar nomes como os de John Cage, Brian de Palma, Sam Shepard, Harvey Keitel. Performances e happenings detonavam novos movimentos, como o do cinema, e novos talentos, como os primeiros autores do teatro gay americano. Yoko Ono estava nessa. "Surpreendidos num casamento por si mesmo contraditório entre vanguarda e cultura popular, jamais inteiramente capazes de escapar à cultura burguesa, mas transformando-a radicalmente ao longo do percurso, a vanguarda da década de 60 armou o palco para os cataclismos políticos e artísticos. Foi esta a primeira geração de artistas pós-modernos. Eles modelaram as discussões, as formas e instituições que animariam a arte e a cultura no resto do século", explica Banes. 'Greenwich Village 1963' é um passeio analítico que nos faz conhecer e entender mais profundamente a época que estamos vivendo.