Os treze opúsculos aqui reunidos e apresentados por Leandro Teodoro, com uma rara competência, concernem à pastoral destinada aos simples cristãos do final da Idade Média. Aos homens e mulheres que passavam por “rudes” – a maior parte era iletrada- –,- o clero deveria ensinar os Evangelhos, os Dez Mandamentos, a maneira de evita r a tentação dos vícios e do pecado, a assistência requerida dos bons fiéis na missa, a obrigação de se confessarem ao menos uma vez por ano e, em geral, os bons costumes. Todas as coisas que os catecismos – o Catecismo Romano em particular – retomaram sistematicamente ao se inspirarem, entre outros, nesses modestos opúsculos. Os livretos portugueses, manuscritos e depois impressos, confirmam que, desde o século XIII, “o povo cristão” havia se tornado o foco das preocupações de clérigos. Mas há um paradoxo nesses opúsculos: contrariamente ao que se poderia esperar, eles não foram, em sua maioria, obras de bispos, nem de curas, nem mesmo de ordens mendicantes, franciscana ou dominicana, especializadas na pregação ao povo, mas de monges cistercienses de Alcobaça, em princípio dedicados às orações e à contemplação. O seu papel surpreendente nessa literatura catequética nascente confirma o prestígio intelectual do mosteiro alcobacense no reino português daqueles tempos. Mais amplamente, lembra a já antiga participação dos monges brancos no desenvolvimento da literatura de sermões e exempla, cuja influência irradiou para muito além dos claustros. Demonstra, enfim, a importância, no final da Idade Média, de um fenômeno cultural novo e importante: a tradução das línguas nacionais entre si, em particular do francês e do castelhano para o português.Jean-Claude SchmittDiretor de estudos - École des Hautes Études en Sciences Sociales