"Eu não sou desse mundo. E nunca mais vou ser o grandão bobo na vida. Nunca mais. Eu agora sou Gurka. Eu agora sou o terrível, o temido Gurka. Nunca mais vão me chamar de Alberto, nome de veado. Eu matei Alberto à porrada." Assim Marcia Kupstas inicia 'Gurka', a saga de um jovem que chegou aos limites do tédio adolescente, cercado por um universo urbano tão hostil quanto enfadonho, onde a violência e o sexo são parte da paisagem. A morte é uma possibilidade cômica, um jogo de roleta-russa. Kupstas, seguindo a linha de clássicos contemporâneos como Laranja mecânica e O clube da luta, escreveu uma fábula moderna que seduz pela crueza da linguagem e horror com que descreve o protagonista sociopata. A autora toma como cenário São Paulo para retratar a trajetória do jovem amoral, que, entre corredores de escola e shopping centers, espalha sua marca de ira, inconformismo, perversão sexual e violência, sem limites para a crueldade e o horror. Alberto tem pai rico, mãe bonita, estuda em colégio tradicional, usa roupas da moda e assiste à televisão. Aos dezoito anos, chega à conclusão de que tudo isso não significa nada. Dá vida a Gurka, símbolo da barbárie de nossos tempos, de um mundo onde tudo é regido por terríveis regras. As roupas elegantes são trocadas por botas e coletes de couro; armas e motocicletas tornam-se seus aliados e as lições ensinadas na escola são substituídas pelas leis da estrada, deglutidas, à força, pelo caminho, pela lei do mais forte. Para sobreviver é preciso matar poderia ser o lema de Gurka e sua turma. 'Gurka' relata a violência que impera tão altivamente em nossa sociedade. Ao invés de chocar, tornou-se parte da natureza humana, elemento necessário ao inconsciente coletivo contemporâneo.