O livro escrito pelo historiador Everaldo de Oliveira Andrade reúne detalhadas informações, dados e documentos que oferecem uma visão ampla e profunda do longo processo histórico de independência do povo haitiano, desde 1804 até os primeiros anos do nosso século XXI. Os laços do presente com o passado são reatados: uma rebelião dos escravos negros da colônia francesa que conquista ao mesmo tempo, feito inédito e de alcance universal, sua liberdade e sua independência. E sabemos hoje do apoio concreto fornecido pelo jovem país em formação ao libertador das Américas Simón Bolívar, como também do terror que o “haitianismo” despertava nos senhores de escravos do Brasil. Isso fez do Haiti um experimento original de liberdade não-eurocêntrica e ao mesmo tempo com profundas raízes africanas e negras e, talvez por isso, praticamente silenciado da memória dos povos, impedidos de conhecer sua História. A nação haitiana sobreviveu soberanamente por mais de cem anos sem novas invasões e chegou ao século XX independente. Quando em 1915 os EUA invadiram o país, o povo haitiano ergueu-se novamente como nação para resistir como podia ao gigante do norte. Movimentos de alcance mundial como o Panafricanismo e a Negritude se projetaram desde o Haiti nesse momento como formas de resistência do povo haitiano. As sementes desagregadoras deixadas pela invasão estadunidense infelizmente germinavam em sua expressão mais conhecida e brutal durante a ditadura de François Duvalier (o Papadoc). O país se transformou em campo aberto de pilhagem externa e corrupção da cúpula dirigente. A ditadura ajudou a erigir uma imagem de barbárie do Haiti. Mas o povo haitiano manteve em sua memória coletiva e em sua capacidade de ação os laços profundos com o seu passado de liberdade. O golpe e derrubada do presidente haitiano por tropas dos EUA em 2004, seguido de uma missão militar de ocupação criada pela ONU e liderada por generais do exército brasileiro, esteve longe de interromper a longa trajetória de resistência da história haitiana, uma história que pertence a todos nós.